Celebrar.
Uma parábola sobre os erros e acertos de nossas escolhas.
Três ladrões estavam de olho naquela
casa a dias, sabiam que uma mulher morava só ali. O primeiro roubaria qualquer
coisa para comprar droga; O segundo roubaria porque era a única coisa que sabia
fazer na vida e não por falta de oportunidade, mas porque a roubar era a coisa
mais fácil e como não gostava de trabalhar era o seu sustento; O terceiro
ladrão iria roubar aquela casa, porque jovem ainda não tinha apreendido outras
coisas na vida a não ser roubar. Era a sua cultura, e estava revoltado com o
mundo. Os ricos roubam, os políticos roubam os países ricos roubam os
países pobres estupram as suas meninas e nada acontece.
O primeiro entrou na casa pulou o muro alto e deu de frente com um cão da raça fila e que por aqueles dias havia contraído a doença da hidrofobia, ou raiva. O cão veio pra cima dele, o mordeu e como era drogado, não se importou entrou na casa e roubo relógio, TV, aparelho de som e vendeu por uma ninharia. Morreu algumas semanas depois com a doença da raiva em andamento devendo para a biqueira onde comprava a sua droga.
O segundo entrou mais tranquilo sem o cão e com uma arma em mão adentrou na casa não queria coisinhas. Queria dinheiro, joias a chave do carro a TV de plasma. E encontrou tudo isso e mais a dona da casa, que estava em seu quarto sentada a cama com uma bebida em mãos. O ladrão entrou apontou a arma para a sua cabeça que abrisse o cofre. Ela abriu, e enquanto abria o ladrão tomou de sua bebida, parecia uísque dos bons. Ele aproveitou e levou a garrafa e todas as joias e mais a TV plasma e a chave do carro. Depois amarrou a mulher. Ele não foi muito longe. Na bebida que tomou da mulher havia barbitúricos porque ela em sua solidão queria se matar, ou enlouquecer de vez. O ladrão enlouqueceu de vez, perdeu a direção e bateu de frente com uma carreta, morrendo esmagado com todas as joias e a tv de plasma que sempre desejou. O carro teve perda total.
O terceiro ladrão entrou na mesma noite, e viu a mulher amarrada e soltou para ela falar onde estava o dinheiro da casa , ela lamentou que ele houvesse chegado tarde. Ele se irritou, mas de relance viu alguns livros na estante de seu quarto. Parou com atenção e correu os olhos. E se lembrou que parou de estudar na sexta série justamente quando estava terminado de ler algo relacionado a poesia de Drummond de Andrade. E ali naquela estante estava o mesmo livro. E por um momento de lucidez que lhe tomou, achou que o melhor que tinha a fazer era voltar a estudar e deixar aquela maldita vida.
A mulher se comoveu com o silêncio do ladrão diante dos livros e disse que ele podia levar todos.
Ele então aceitou, ela arrumou algumas
sacolas e abriu a porta da frente para ele sair.
Anos mais tarde o terceiro ladrão
apareceu na mesma casa como um corretor bem sucedido em seu próprio carro
e quis agradecer a mulher por ter dado aquela chance a ele.
Ela ficou contente é claro. Mas foi ela
quem o agradeceu.
- Mas porque me agradece! - disse o
terceiro ladrão surpreso com a atitude daquela mulher.
- Por aquela noite! Eu simplesmente
vivia uma vida infeliz, meu marido havia me deixado. Tenho todo esse dinheiro e
toda a infelicidade do mundo. Eu naquela noite iria me matar, mas o segundo
ladrão tomou a bebida e me amarrou. E depois você apareceu e quando o vi parado
olhando para os livros encontrei naquele gesto uma vontade de viver, de mudar
de vida. E foi uma grande esperança para mim, porque naquela sua vontade de
mudar de vida eu encontrei uma razão para viver a minha vida. E sabe qual é
essa razão?
- Não.
- Eu passei a dar aulas
para presidiários e para as presidiárias. Para crianças desamparadas.
Semana que vem será a formatura de minha primeira turma
de presidiários e presidiárias. E você está convidado a
participar, assim como me convidou a mudar o rumo suicida de minha vida, dando
oportunidades a outras vidas de mudarem o destino amargo e incerto que pareciam
condenadas.
Mas não é mesmo que a vida merece ser celebrada?
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