sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Uma parada reflexiva!

Estava  viajando no feriado prolongado para o interior enfrentando aquele maldito trânsito que alivia a cidade de São Paulo mas  que causa transtorno em todas as outras cidades que dão acesso a ela.
Estava só, a minha mulher e os meus filhos partiram dois dias antes do feriado. E depois de cinco pedágios e 120 km numa noite escura e com certo frio. Parei num desses postos de beira de estrada para comer algo. Eu tinha mais 180 km pela frente. E numa dessa eu a vi sozinha numa mesa comendo algo e me olhando demoradamente. Fiquei constrangido. Claro! Porque ela não parava de me olhar. 
Terminei o lanche , paguei a conta e quando ia entrando em  meu carro ela veio correndo me chamando pelo meu nome.
- Melquis, não se lembra de mim!
Eu não me lembrava.
- Marli! Nós trabalhamos juntos na....
- Claro! Marli a secretária do Evaldo. 
- Ex- Evaldo. Ele morreu.- ela me disse seca.
- Que pena!- disse surpreso, pela morte e por vê-la.
- Pena Porque? Eu não senti pena alguma!
- Mas vocês se casaram. Eu me lembro!
- Sim, mas foi o meu inferno. Se soubesse o que ele era eu nunca teria me casado.Um alcoólatra desgraçado que me batia dia sim e outro também. Não dava no couro, não me deu filhos que eu tanto queria, nem conforto algum. Tudo o que eu herdei dele foi amargura e ressentimento.
-Mas Marli, isso tudo é um choque para mim. o Evaldo era tão certinho.
- Certinho o caralho! - disse ela com raiva.- Ele era certinho no trabalho e só isso. Você acredita que ele me fez transar com um travesti! 
- Ui! Pera ai ele te obrigou botou uma arma em sua cabeça!
- Não! Eu  confesso que tive curiosidade! Foi bom, foi bom...até o travesti comer ele. Ai não deu. Eu virei o jogo e comecei a bater nele e o travesti também. Evaldo foi parar no hospital e  depois  veio a doença do figado de tanto beber e  ele morreu.
-Puxa vida ! E faz tempo que ele morreu!
- Dois dias atrás!
- O que! Eu não fiquei sabendo.
- E isso também não tem importância.
- E você como está?
- Agora estou bem! Estou indo para o interior na casa de uma amiga minha. Bruna Lãn o travesti. Vou te confessar uma coisa. Acho que agora eu encontrei a pessoa de minha vida!
Eu confesso que perdi o chão. Por mais que  a gente tenha vivido nessa vida e ouvido tantas histórias a vida parece ter sempre uma  razão que foge a nossa razão.  E não se trata de uma carta a mais na manga não  e apenas. Mas a vida parece ter um baralho todo e as vezes uma jogada que desconhecemos.
Eu então fiquei ouvindo Marli contar toda a sua história até quase a madrugada chegar.
Marli sempre teve uma ar de soberba e não dava bola para segundo escalão da empresa. Queria um  gerente geral para a sua vida. E teve. E agora estava atrás de uma amor e parece ter encontrado com essa Bruna Lãn. Eu cheguei quase ao amanhecer na casa de meus parente e contei toda essa história. Todos me ouviram  tão surpresos como eu. De alguma forma  esse questionar de que a vida tem sempre as suas razões além de nossas razões foi comum a todos também.


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